Eduarda Petracca: Sete anos de renascimento
Aos 10 anos, Eduarda Petracca recebeu o diagnóstico de insuficiência renal, após exames de sangue comprovarem problemas no funcionamento desses órgãos. A adolescente conta como foi receber o diagnóstico tão nova. “Eu era muito pequena e não sabia muito bem o que estava acontecendo, porém conforme foi passando eu fui entendendo e tive que criar uma maturidade muito cedo”.
Hoje, com 17 anos, Eduarda conta sua experiência exitosa de preparação pré-transplante, no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. “Fazia diálise peritoneal e fui muito bem tratada em todas as internações e procedimentos”. A jovem tem boas lembranças do cuidado que recebeu naquele momento de dificuldade. “Eu não tenho nada do que reclamar, sempre fui muito bem atendida e nunca precisei gastar nada.”
O percurso até a cirurgia foi de muita ansiedade. À espera pelo órgão compatível era uma nova expectativa a cada exame, mas tudo foi cessado no transplante quando uma mistura de incredulidade e alívio tornou esse momento especial. “A sensação é de inacreditável, sabe? Tipo, uau, realmente aconteceu”, relata.
Ainda fazendo tratamento pelo SUS, indo em consultas e exames regulares no mesmo hospita, o sistema público foi e continua sendo essencial para Eduarda. “Eu diria que é fundamental, pois muitos brasileiros necessitam de cuidados complexos e o SUS oferece essa possibilidade, porém muitos não sabem disso, então deveriam se informar e ir atrás dos seus direitos”
Mesmo tendo uma experiência exitosa, reconhece que algumas melhorias poderiam ser feitas para que os processos fossem mais ágeis e houvesse aumento de recursos disponíveis que poderiam beneficiar ainda mais pacientes transplantados. “Porém, não tenho nada a reclamar, eles sempre foram muito atenciosos e não tenho nenhuma brecha para falar”.
Flávia Alves: Elogios e críticas no processo de transplante
Enquanto uma debutante costuma procurar vestidos, viagens e príncipes, a realidade foi um pouco diferente para Flávia Alves, diagnosticada com insuficiência renal aos 15 anos, em consequência de uma doença autoimune rara, a Granulomatose de Wegener.
Passaram-se 21 anos até receber a notícia de que seu rim havia piorado e o transplante renal precisaria acontecer. “Foi um tempo de muita insegurança e medo.”
Um ano após sua função renal piorar, em junho de 2023, aconteceu a cirurgia. “Minha expectativa era fazer o transplante e, em mais ou menos 10 dias, eu achei que minha vida voltaria ao normal. Doce ilusão (risadas)”, brinca. Após o transplante, foram desafios no período de recuperação, como infecções, efeitos colaterais de medicamentos e a necessidade de reaprender a rotina. Para ela, o apoio emocional foi fundamental. “Não importa o quanto forte você é, uma hora ou outra, você vai desanimar e vai precisar de ajuda. Aceite a ajuda.”
Apesar de elogiar o SUS durante todo o processo do pré-transplante e da operação, Flávia critica a falta de cuidados após a alta hospitalar. Como tinha um plano de saúde privado, ao voltar para casa teve que passar a fazer o acompnhamento pelo seu próprio plano. “Eu não acho justo, pois pago todos os impostos e taxas como qualquer outra pessoa.”
Rafaela Priscila: Superação e resiliência
Rafaela Priscila, 32 anos, transplantada renal há 3 anos, 7 meses e alguns dias, relata que tudo começou com dores de cabeça, mas acreditava ser pela vida corrida que tinha. “Acordava cedo, trabalhava o dia todo e já ia para a faculdade à noite”. A faculdade era longe da cidade em que morava e o trajeto consumia uma hora para ir e voltar, o que resultava em noites mal dormidas.
Por conta da correria, jamais imaginou que suas dores fossem tão graves como eram. Aos 28 anos começou o planejamento para engravidar, parou com alguns medicamentos, anticoncepcionais e começou com consultas para o acompanhamento da futura gestação. O diagnóstico estava mais perto do que imaginava. Foi em uma consulta no ginecologista que o médico fez um encaminhamento para o cardiologista e assim começou a bateria de exames.
Logo que os resultados chegaram, veio a notícia. “Minhas taxas do rim deram bem alteradas, me encaminharam para o nefrologista, aí foi quando eu tive o meu diagnóstico. Um já estava paralisado, o outro só estava 30%”. Rafaela relata ter sofrido luto com a notícia, pois além do sonho de engravidar ter ficado mais para frente, naquele momento a angústia de pensar que iria morrer trazia noites mal dormidas e regadas a lágrimas.
Foi buscando uma segunda opinião médica que ela entendeu a situação, começou a aceitar que o transplante era uma luz no fim do túnel. Todo o processo aconteceu durante a pandemia e Rafaela relata que a bondade das pessoas foi crucial para ajudá-la nesse momento difícil.
Em 2021, recebeu o rim, doado por seu pai. “Meu pai me deu à luz duas vezes, ao me gerar junto de minha mãe e em 2021 ao me doar o rim. Foi uma mistura de emoções: ansiedade, alegria e gratidão. Uma paz e esperança de uma nova vida”.
Hoje, transplantada há três anos, Rafaela deixa uma mensagem para aqueles que estão passando por isso. “Não desistam, tenham paciência, sejam resilientes. Não é fácil, a gente não escolhe muita das vezes, mas é recompensador.”
Mariana Cristina Inforsato: “Os médicos, a enfermagem, são super humanos”
“Esses miomas me faziam sangrar quase que o mês inteiro. Eu sangrei uns quatro anos da minha vida”, conta a moradora de Bonfim Paulista (SP), Mariana Cristina Inforsato, fisioterapeuta de 42 anos, ao relatar todo o percurso até à extração dos miomas uterinos. Durante anos, Mariana sofria de sangramentos exagerados, mas acreditava que seu fluxo menstrual fosse mesmo intenso, deixando de lado a ida ao médico. Foi procurando uma ginecologista que descobriu que aquela quantidade de sangue não era normal, como pensava ser. Após uma bateria de exames e encaminhamentos, o diagnóstico de pólipos e miomas foi descoberto. “O primeiro passo foi fazer o ultrassom lá na Unaerp, aí detectou pólipo e mioma”
Ela enfrentou um longo processo desde a ida ao médico e a extração dos miomas, que foi realizado integralmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Um dos procedimentos realizados em 2022, incluía uma histeroscopia diagnóstica que mapeia o tamanho e a gravidade das lesões. Três meses após esse exame, foi realizada a remoção de dois miomas e um pólipo, mas parte do problema persistiu em razão da localização delicada das lesões. Contudo, a médica de Mariana afirmou que o procedimento foi bem sucedido e que seria possível continuar tratando através de anticoncepcionais e injeções.
A fisioterapeuta elogia todo o processo que passou com o SUS, ressaltando que a única crítica era a frieza dos profissionais que a atenderam no centro cirúrgico: “O pessoal do centro cirúrgico, eles são bem frios, mas o resto eu acho bem humano. Os médicos que tive contato, a enfermagem, super humanos.”
Ela enaltece o trabalho dos profissionais que a acompanharam no pré e pós-operatório, descrevendo-os como acolhedores e cuidadosos. A gratidão pelo acesso gratuito e eficiente ao tratamento é evidente. “As pessoas são muito boas no SUS, mesmo, de executar (os procedimentos). Pode ser que tenha um ou outro que não são tão humanos, mas na execução eles são excelentes.”