Moda Sustentável

A nova tendência é cuidar do meio ambiente

O setor da moda adere a práticas sustentáveis da escolha de tecidos orgânicos às condições de trabalho

Liz Barreto e Maísa Orlando
27 de novembro de 2024
Moda sustentável tem atraído adeptos em Ribeirão Preto (Foto: Aline Gregoldo)

Muitos se desesperam para se encaixar nas novas tendências da moda e, com isso, consomem muito mais do que o necessário. Nesse cenário, surge a preocupação com o meio ambiente, já que a indústria da moda é uma das mais poluentes.

De acordo com um relatório de março de 2023 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), ela é responsável por 10% das emissões globais anuais de carbono.

FAST E SLOW FASHION

Nesse contexto, encontra-se o fast fashion: um modelo de negócio que se concentra na produção de peças de vestuário em grandes quantidades e o mais rápido possível. Para que o preço do produto final seja barato para o consumidor, a indústria de fast fashion busca materiais baratos, como o poliéster, por exemplo. Esse material é feito de petróleo e, de acordo com um relatório do Greenpeace de 2016, pode demorar até 200 anos para se decompor. Além disso, a indústria fast fashion usufrui de mão de obra barata, contratando trabalhadores de países como Índia e Tailândia para produzir suas peças. 

Em contrapartida surge a moda sustentável, que adere ao slow fashion. A coordenadora e professora do curso de Moda, do Centro Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, Juliana Bononi, exemplifica a diferença entre os termos e a maneira como se diferenciam na produção. Uma peça de roupa que segue os princípios do fast fashion tem pouco tempo desde o momento em que é criada até ser comercializada. Esse processo é rápido, pois a peça dura apenas uma estação, e cai em desuso.

Já no slow fashion, o trabalho é mais artesanal. Durante o processo de produção e criação são escolhidos tecidos de melhor qualidade, além de ser uma peça mais atemporal e clássica, que vai durar mais tempo e ficar anos no seu guarda-roupa com a mesma qualidade do dia em que foi comprada. 

A moda, a roupa, é o primeiro presente que a gente ganha quando nasce. Quando a nossa mãe vai para o hospital para a gente nascer, ela já leva uma roupinha para a gente. Quando você descobre que a sua melhor amiga está grávida, ou sua irmã, a primeira coisa que você quer é dar um presente para essa criança. Você vai dar uma roupinha, um sapatinho. Então, a gente tem um apego emocional pelas roupas. E o fast fashion fez a gente perder esse apego. (Juliana Bononi)

A professora de moda Juliana Bononi explica a diferença entre fast e slow fashion (Foto: Arquivo pessoal)

A professora tamm menciona as vantagens do surgimento e ascensão da moda sustentável. Para ela, o maior benefício é mexer na cadeia produtiva e dar melhores condições de trabalho para os costureiros que produzem as roupas. Mas, ao ampliar esse olhar, além da melhoria no âmbito social, a conscientização sobre o descarte correto das roupas também melhora significativamente o cenário ambiental. Além disso, ao optar por tecidos sustentáveis, os 100% algodão, por exemplo, as confecções também ajuda a diminuir o impacto no meio-ambiente, pois o tecido se decompõe mais rapidamente, entre outros benefícios. 

No Brasil, a sustentabilidade na indústria da moda tem se popularizado e conscientizado boa parte da população. Além do surgimento de novas marcas que aderem à responsabilidade ambiental, a empresária Aline Gregoldo, proprietária de uma marca de roupas sustentáveis, mudou sua perspectiva ao presenciar, em São Paulo, estrangeiros semi escravos trabalhando em confecção de roupas que ela estava comprando para uma loja multimarcas onde trabalhava. 

Ao ver isso, realmente abriu meus olhos. Eu não me sinto mais à vontade em comprar roupa se eu não sei quem fez essas roupas. (Aline Gregoldo)

Aline Gregoldo é proprietária de uma marca de roupas sustentáveis em Ribeirão Preto (Foto: Davi Caetano)

Sob esse impacto, decidiu então criar a sua própria marca de roupas, com peças básicas, mas engajadas com uma visão ética do processo de produção, desde os fornecedores de materiais até à valorização dos trabalhadores.

Mas não é só nas novas marcas que a sustentabilidade se faz presente. Com o aumento de movimentos, interesse e consumidores abertos às iniciativas sustentáveis, as grandes marcas precisaram se adaptar às exigências atuais do mercado.

Saiba mais sobre o crescimento da moda sustentável no Brasil.

BRECHÓS

A moda circular – os brechós e bazares –  traz a comercialização de roupas de segunda mão como uma alternativa sustentável de consumo, com estilo. Para a empresária Melissa Andrade, sócia de um brechó em Ribeirão Preto, trabalhar nesse ramo é como brincar de trocar roupas com as amigas. Ela ainda menciona que trabalhar com um brechó é criar looks com diferentes estilos de roupas.

Os brechós e bazares estão em alta e têm atraído a atenção (Foto: Maísa Orlando)

Porque como a gente é brechó, a gente vai pegar peças de décadas atrás e peças que estão vendendo em shopping agora. E o legal disso é a gente misturar tudo e fazer uma coisa bem diferente do que todo mundo vê e sem ficar brega, né? Sem ficar fora da atualidade também. (Melissa Andrade)

Para a empresária Melissa Andrade, sócia de um brechó, trabalhar nesse ramo é como brincar de trocar roupas com as amigas (Foto: Liz Barreto)

Os brechós e bazares estão em alta e têm atraído a atenção, mas nem sempre foi assim. Por muito tempo, esses locais foram vistos como depósitos de roupas velhas, um verdadeiro “cemitério para roupas”. Mas, a internet tem sido essencial para a ascensão dessas lojas. As redes sociais proporcionam uma plataforma para as curadorias de peças usadas e vintages, engajando os jovens a aderirem a práticas de consumo sustentáveis. “Eu já vendia muito no Instagram, só que passei a vender mais. Então, tem dia que é meio a meio. A loja vende metade, Instagram vende metade do faturamento diário.”

MARCAS BRASILEIRAS QUE PREZAM PELA SUSTENTABILIDADE

A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo. Andando na contramão desse cenário, as empresas vêm se atualizando e aplicando estratégias sustentáveis aos seus consumidores. Nesse vídeo, você vai conhecer três marcas brasileiras que inovam e se preocupam com o meio ambiente.