O paratletismo no Brasil tem conquistado cada vez mais espaço e visibilidade, especialmente impulsionado pelo impressionante desempenho de atletas paralímpicos em competições nacionais e internacionais. Enquanto as vitórias nas pistas e nas quadras refletem o talento e a determinação desses atletas, o suporte estrutural e financeiro ainda deixa a desejar. Instalações acessíveis para os paratletas e programas de formação que visem a revelação e preparação de novos talentos são duas das principais demandas apontados por equipes e técnicos.
A Secretaria Municipal de Esportes de Ribeirão Preto tem atuado na criação de centros especializados e financiamento de competições que devem ser parte das iniciativas de apoio ao paratletismo no Brasil. O Complexo Esportivo Cava do Bosque é uma instituição que oferece instalações acessíveis e funciona como um ponto de encontro para a comunidade paratleta. Já o projeto Esporte Para Todos tem como pretexto garantir que pessoas com deficiência tenham acesso a modalidades esportivas adaptadas e suporte técnico especializado.
As parcerias são outra forma de ampliar as condições de treinamento e formação de paratletas. Um desses convênios, firmado entre a Secretaria Municipal de Esportes, o Comitê Paralímpico Brasileiro e a Escola de Educação Física e Esportes da Universidade de São Paulo USP), criou o Centro de Referência Paralímpico, que oferece atividades esportivas nas modalidades de atletismo e natação.
Erik Ávila, secretário de Esportes da cidade, sublinha a importância dessas parcerias. “Essas colaborações são essenciais para o desenvolvimento das modalidades e para garantir o financiamento da participação de nossas equipes em competições oficiais.” Ações concretas como essas podem garantir a igualdade de oportunidades. Ainda, segundo Ávila, os locais de treinamento, como o Complexo Esportivo Cava do Bosque e o Centro de Referência Paralímpico, foram adaptados para garantir que todos os atletas, independentemente de suas condições físicas, possam se exercitar. “Nossas atividades são realizadas em locais que possuem acessibilidade total, desde a chegada até a permanência dos atletas”, enfatiza o secretário.
HISTÓRIA DE SUPERAÇÃO
Giovana Gabriele de Lima Barbosa, 15 anos, nasceu em Ribeirão Preto e é atleta paralímpica de alto rendimento nas modalidades de Bocha e Petra. Diagnosticada com paralisia cerebral secundária a anóxia neonatal, Giovana apresenta comprometimento motor, mas mantém suas funções cognitivas preservadas. Desde a infância, ela teve o apoio de sua mãe, Rose Lima Barbosa, que proporcionou um ambiente inclusivo e estimulante, além de cuidados essenciais para seu desenvolvimento. Em 2016, aos 13 anos, começou a treinar na EMEF. Prof. Dr. Waldemar Roberto, onde se destacou nas competições escolares e conquistou títulos de campeã paulista e brasileira na Bocha paralímpica. Esse desempenho a levou a integrar o programa federal Bolsa Atleta.
O suporte da escola e da Secretaria da Educação foi, segundo ela, crucial para o seu avanço esportivo, permitindo que ela também iniciasse a modalidade Petra, na qual também se consagrou campeã mundial. Giovana mantém vínculo com a seleção brasileira e segue participando de eventos nacionais, com perspectivas de competir internacionalmente no futuro. Sobre o cenário esportivo do paratletismo, ela afirma que “a mídia está mostrando mais o paralímpico, mas não é igual ao olímpico. Eles ganham muito mais divulgações. A gente do paralímpico espera que um dia seja a mesma divulgação pros dois igualmente.”
A trajetória da atleta reflete o potencial de pessoas com deficiência quando recebem as condições adequadas para se desenvolver e ressalta a importância de políticas públicas adequadas direcionadas ao paratletismo no Brasil. “O esporte muda vidas, mudou a minha vida, pode mudar a sua vida. O esporte é incrível”, destaca Giovana.
DESAFIOS ENFRENTADOS
Apesar dos avanços, o paratletismo ainda enfrenta desafios. O secretário Erik Ávila ressalta que “as barreiras atitudinais e a falta de acessibilidade pública ainda são obstáculos. É fundamental mudar a percepção da sociedade e das famílias sobre as pessoas com deficiência.”
A ex-treinadora da atleta paralímpica Giovana, Juliana Maciel, afirma que a inclusão no esporte adaptado tem um papel crucial na vida das pessoas com deficiência. “A transformação que já vi em atletas é imensa, como foi o caso da Giovana, que se tornou a melhor do mundo na classe T71 da Petra.” Para a treinadora, o maior desafio enfrentado foi a dificuldade em acessar estruturas adequadas e equipes capacitadas. Ela também ressalta a interferência da gestão política, que, segundo ela, impacta diretamente na qualidade do desenvolvimento do paradesporto.
Juliana também reivindica que o processo de seleção de profissionais priorize a capacitação e a experiência, em vez de indicações políticas e enfatiza “a necessidade de mais recursos, formações contínuas e reconhecimento de atletas e treinadores com histórico de sucesso”. Segundo Juliana, “esse tipo de reconhecimento é essencial para ampliar a inclusão e o desenvolvimento da modalidade”.
O paratletismo em Ribeirão Preto, assim como em outras regiões do Brasil, vive um momento de crescimento, mas ainda enfrenta desafios estruturais e culturais. Embora iniciativas mostrem compromisso com a inclusão, a verdadeira transformação depende de ações mais abrangentes, que vão além da oferta de espaços adequados. A mudança de mentalidade, a valorização dos profissionais envolvidos e a conscientização da sociedade sobre a importância da inclusão, são fundamentais para garantir que o paratletismo seja reflexo de uma sociedade que realmente abraça a diversidade e o respeito à igualdade de oportunidades.