Empreendedorismo familiar

Microempreendedores Individuais crescem no Brasil, mas enfrentam desafios para se destacar no mercado

Nos quatro primeiros meses de 2024, foram abertas cerca de 1,4 milhões de MEI’s, um aumento de 26,5% em relação a 2023

Ana Luíza Massoneti, Ronaldo Siqueira Jr. e Sarah Vitaliano
27 de novembro de 2024
Sede da Santa Helena, em Ribeirão Preto/Foto: Ronaldo Siqueira

Os microempreendedores individuais (MEI’s) têm crescido cada vez mais no Brasil. Entre janeiro e agosto deste ano, representaram cerca de 78% do total de empresas abertas. Segundo pesquisa feita pelo site O Gestor, no primeiro quadrimestre de 2024, foram abertas cerca de 1,4 milhões de empresas, um aumento de 26,5% em relação ao último quadrimestre de 2023, e de 9,2% quando comparado ao mesmo período no ano anterior. 

Contudo, o fechamento de empresas também registrou um aumento, com 854 mil negócios encerrando suas atividades no mesmo período. Segundo Paulo Arruda, gerente regional do Sebrae de Ribeirão Preto, um dos principais desafios que os MEI’s enfrentam é obter capital para o giro do negócio. 

Pequenos negócios precisam acessar serviços financeiros. Há um juro menor subsidiado, para que ele possa ficar com recurso para o capital de giro. Às vezes, a empresa põe um monte de recurso que guardou, ou que pegou de um fundo de garantia, mas acaba ficando sem dinheiro para o capital de giro, para bancar, pelo menos, os três, quatro primeiros meses”, detalha o especialista.

Um exemplo conhecido nacionalmente em crescimento empresarial é a indústria de alimentos Santa Helena, fundada em Ribeirão Preto, que passou de uma microempresa familiar para uma referência ao redor do país. Atualmente, conta com cerca de 1.1oo funcionários, sendo classificada como grande empresa.

“Começou como toda empresa familiar, no quintal da cozinha da casa, com a avó do seu Renato [atual dono da empresa], fazendo doce no tacho e vendendo pela vizinhança. Por um bom tempo, foi uma empresa pequena familiar. Com o tempo foi crescendo, se profissionalizando”, afirma Elaine Ribeiro, diretora de recursos humanos da Santa Helena. “O grande desafio foi manter a vontade de continuar crescendo. Enfrentando os desafios de uma empresa pequena. Manter a constância, a vontade de seguir no negócio”, completa.

Foto: Divulgação/Santa Helena

Ao longo dos anos, a empresa foi se profissionalizando, contratando trabalhadores experientes para realizar a gestão e garantir a inovação. Com um núcleo específico para essa área, a Santa Helena continua em constante evolução para manter-se competitiva no mercado.

A inovação sempre esteve na veia da empresa, desde lá atrás na criação dos produtos. A empresa está sempre muito atenta ao que tem no mercado. O que o nosso consumidor quer, seus desejos. Então, ela está sempre atenta a isso para buscar produtos que realmente façam sentido para esse perfil de consumidor”, explica Elaine.

Foto: Divulgação/Santa Helena

De acordo com Paulo Arruda, as empresas que terão mais dificuldades no mercado são aquelas que insistem em oferecer o “mais do mesmo”, sem inovação. Ele destaca que, ao abrir um negócio, é essencial identificar o que o mercado ainda não está oferecendo e, a partir disso, criar algo novo.

As empresas que vão encontrar mais dificuldades são aquelas empresas que vão estar fazendo o que é tradicional, que é mais do mesmo, sem inovar, sem criar, porque já existe alguma fatia do mercado sendo aproveitada por outras empresas que começaram. Quando você abre um negócio, você tem que ver o que o mercado não está oferecendo para então você oferecer. (…) Hoje, o setor de alimentação acaba tendo mais dificuldade. Qualquer empresa que hoje faz um atendimento igual a uma empresa que já está no mercado, vai pegar concorrência. Então, você tem que fazer alguma coisa diferenciada”, afirma Arruda.

Uma forte tendência no mercado atual é a demanda por serviços, especialmente por empresas que buscam aumentar sua competitividade. Em vez de desenvolver certas atividades internamente, muitas empresas optam por contratar serviços terceirizados, como vigilância, segurança, recepção e até áreas digitais. Isso ocorre porque, em muitos casos, o custo de contratar serviços externos é mais baixo e menos complexo do que investir em infraestrutura própria.

Muitas vezes o investimento é menor do que montar uma indústria ou um comércio, que você tem que investir em estoque. O serviço é mais simples de montar e mais barato. E as pessoas têm uma tendência de buscar esse tipo de serviço”, completa o gerente do Sebrae.

O crescimento dos microempreendedores individuais (MEI’s) reflete uma tendência de empreendedorismo cada vez mais forte no Brasil. Exemplos de sucesso, como o da indústria de alimentos Santa Helena, mostram que uma gestão diferenciada pode consolidar a microempresa familiar no mercado. Pequenos negócios focados no crescimento e na inovação, enfrentam desafios, mas podem aproveitar oportunidades nesse mercado em constante transformação.