O movimento “Tá Com Calor? Plante Árvore!” busca aliviar o calor e a sensação de superaquecimento em Ribeirão Preto por meio do plantio de árvores.
O ambientalista e coordenador do movimento, Reinaldo Romero, luta para aumentar as áreas verdes no município desde 1989. Com isso, resolveu ampliar a iniciativa em 2012, quando criou o movimento “Tá com Calor? Plante Árvore” integrado à Associação Ecológica e Cultural Pau Brasil, da qual faz parte.
A Associação é uma das ONG’s mais importantes e ativas em Ribeirão Preto, voltada às pautas ambientais. Fundada em 1988, tem por finalidade a defesa, preservação e a restauração do patrimônio cultural, histórico, paisagístico e ecológico do município.
O movimento se organiza por meio de mutirões de plantios e manutenções, compostos por um grupo de voluntários. Geralmente o convite vem do próprio morador, que percebe a necessidade de transformação do espaço desmatado em seu próprio bairro. “Uma pessoa nos convida para fazer um plantio. Nós vamos até o local, analisamos as espécies que podem ser plantadas, organizamos, divulgamos, fazemos as buscas das mudas e plantamos. Após isso, o grupo que nos convidou é que será responsável por cuidar dessas árvores”, explica Romero.
Essas mudas que se tornarão futuras árvores, precisam ser cuidadas no mínimo entre 3 a 5 anos. Como não temos recursos financeiros, de equipamento, necessita-se que seja dessa forma. Portanto, ao longo do tempo, vimos que a melhor forma de cuidar dessas árvores, é ter mais pessoas para cuidar de um número pequeno de árvores, que realmente conseguirão dar a devida atenção.
– Reinaldo Romero
Segundo o ambientalista, os mutirões também são espaços para trocas de conhecimento, principalmente durante o café colaborativo que acontece nas reuniões. “Os mutirões também são importantes para educação ambiental, costumo brincar que a gente tricota, come bolo e planta árvore”. Ele ainda ressalta a importância do envolvimento da comunidade local nesses plantios, tanto para a manutenção das mudas, quanto para transmitirem a importância do gesto para esses grupos, muitas vezes periféricos.
Atualmente, existem oito espaços distribuídos pela cidade que estão sob os cuidados do movimento, incluindo a área verde na Avenida Carlos Eduardo de Gasperi Consoni, no Jardim Botânico.
Entretanto, Reinaldo calcula que mais de 30 mil árvores já tenham sido plantadas desde a criação do movimento. As mudas são doadas pelo Parque Ecológico Ângelo Rinaldi – Horto Florestal de Ribeirão Preto e replantadas seguindo o Código Florestal que o próprio coletivo ajudou a construir, porém faltam políticas públicas que promovam ações mais efetivas na cidade.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Considerando a necessidade de ampliar medidas voltadas para as pautas ambientais em Ribeirão Preto, o movimento desenvolveu junto à Associação Ecológica e Cultural Pau Brasil o “Plano de Arborização Urbana” para ser inserido no Plano Diretor do município.
Contudo, o projeto precisa ser aprovado na Câmara Municipal. A proposta pretende por meio de incentivos públicos, contratar especialistas que possam desenvolver medidas para reposição da área verde no município, além de incentivar a educação ambiental nas escolas. “As crianças são importantes, mas um plano de educação ambiental também tem que atingir quem está com a caneta na mão tomando decisão de poluir, de degradar, e também de recuperar”, conclui Romero.
Em relação à Associação, o presidente e especialista em Gestão Ambiental, Marcelo Pereira de Souza, destaca que o movimento “é uma excelente iniciativa para as pessoas se mobilizarem. A sociedade é massa de manobra, vítima. Você começa a despertar na pessoa, o raciocínio crítico para as coisas. Portanto, cuidar do seu jardim é altamente educativo”.
Contudo, segundo Souza, falta interesse político para a questão ambiental na cidade. “O poder público de Ribeirão Preto representa o agronegócio, que representa os interesses das empresas que fazem loteamento e construção civil. Então, se você falar para um cara desse que ele vai ter que largar a área verde no lugar de vender lote, ele fala ‘de jeito nenhum’”, conclui o especialista.
Confira a íntegra da entrevista com o Marcelo Pereira de Souza, professor titular do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP-RP, especialista em Gestão Ambiental e presidente da Associação Ecológica e Cultural Pau Brasil.