O processo de formação cultural e histórico de Ribeirão Preto está intimamente ligado ao agronegócio desde o seu surgimento, em 1856. Assim, teatros, museus, universidades, o plantio do café e da cana-de-açúcar, o chope; todos esses elementos compõem a identidade ribeirão-pretana. Segundo a historiadora Lilian Rodrigues, “identidades culturais são experiências de um determinado grupo que construiu significados coletivos e possui uma história compartilhada.”
O agronegócio, historicamente, é uma das atividades econômicas mais relevantes de Ribeirão Preto, seja com a cafeicultura, seja com a cana-de-açúcar. O município tem sua economia ligada à cultura agrícola desde sua origem, desenvolvida pela presença da mão de obra de negros, árabes e da imigração europeia em massa ocorrida no começo do século XX.
Segundo a engenheira agrícola e professora universitária, Melina Cais, o município reflete o ritmo da produção rural da região. “E ainda desponta nas áreas de saúde, ensino, pesquisa, serviços, infraestrutura, artes, entre outras, impulsionada pela renda e pelos impostos gerados pelo agronegócio.”
A construção dessas identidades está fortemente ligada à agricultura. “O café nos legou o patrimônio arquitetônico dos casarões e fazendas que ainda existem, além de influenciar o jeito de fazer política, que ainda carrega traços do coronelismo, com forte tendência ao clientelismo”, explica Lilian. “Em um espectro mais recente, nas últimas décadas, a cana-de-açúcar moldou nossa relação com a terra e ainda influencia nossa relação com o meio ambiente.”
Para a engenheira Melina, a relação da cidade com o agronegócio deve se intensificar ainda mais no futuro. Hoje, além de sediar a Agrishow, maior feira agrícola da América Latina, Ribeirão Preto tem um polo de startups, o Supera Parque, o que promove a inovação e atrai empresas de todo o mundo. “É inegável que a tecnologia no agro terá cada vez mais espaço, já que está em constante busca de ganhos significativos por meio de inovações para melhorias de produtos e serviços para o setor.” Ribeirão Preto possui 44 startups agritechs, ou seja, que utilizam tecnologia de ponta para o desenvolvimento de produtos e serviços na agricultura. “Estima-se que esse número aumente de 5% a 10% no próximo ano”, completa Melina.
Todo esse impacto que o agronegócio promove na cidade cria um contexto no qual esse tema, mesmo que indiretamente, esteja presente no cotidiano e na identidade da cidade, afetando o estilo de vida e o consumo da população. E mesmo com essa notoriedade do agronegócio em Ribeirão Preto, o advogado aposentado Octávio Verri entende que não se pode dizer que a cidade decaiu culturalmente, visto que conta com polos culturais como o Teatro Minaz, a Orquestra Sinfônica e o SESC . “Ribeirão é um tremendo centro de cultura.” Criador da Plataforma Verri, o advogado se dedica a preservar a história. A plataforma é um acervo virtual que compreende sinopses de mais de 2.500 livros sobre a história das cidades da região ribeirão-pretana.
Lilian complementa a fala de Verri sobre a valorização da cultura local nos últimos 20 anos. “O papel relevante do Conppac (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural), com o tombamento de bens culturais, tem contribuído para o aprofundamento da conscientização sobre o tema.”
Pedro Leão, ex-secretário da Cultura e Turismo de Ribeirão Preto, também segue a linha do equilíbrio em relação à convivência entre os dois setores na cidade. “Há, sim, uma coexistência. São coisas diferentes. É necessário olhar para a base cultural, para as questões regionais, para a cultura sertaneja, para a Folia de Reis, mas também para outras culturas tradicionais.”.
Segundo a historiadora Lilian, festividades religiosas e populares são fatores que também têm que ser levados em consideração na construção dessas identidades, amplificando o conceito de cultura. Ela também cita as cervejarias Antarctica e Paulista que deram à Ribeirão não só a fama do chope, como um patrimônio arquitetônico notável, na figura do Quarteirão Paulista.
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