Refugiados venezuelanos

A história de 8 mil anos do “povo da canoa”

Leonardo Couto, Nicolas Souza e Sergio Linhares
25 de novembro de 2024

Há cerca de 8 mil anos, os indígenas Warao começaram a se desenvolver na Venezuela. Conhecidos pela alcunha de “povo da canoa”, em 2011 eles representavam o segundo maior grupo étnico daquele país, com cerca de 49 mil indivíduos, segundo dados do Censo venezuelano. Estabelecidos geograficamente no estado de Delta Amacuro, e parte dos estados de Monagas e Sucre, na região Nordeste do país, no delta do rio Orinoco,  o nome deriva da palavra “Wirinoko”  Wiri significa “onde remamos” e noko, “lugar”. 

Por serem um grupo grande e esparso, os Warao, durante o período pré-hispânico, antes do desembarque dos espanhóis no continente americano,  desenvolveram diferentes costumes, seguindo a lógica natural e espacial na qual viviam. A divisão dos Warao era baseada em quatro subgrupos, de acordo com estudo elaborado pelo antropólogo norte americano Johannes Wilbert. O primeiro deles, que habitava o nordeste da Venezuela, concentrava suas práticas na pesca, na fabricação de canoas e no extrativismo de buriti, a palama de moriche, em espanhol,  uma pimenta nativa das regiões norte e central da América do Sul. No nordeste venezuelano, em áreas com presença de pântanos e manguezais, viviam os coletores e pescadores Já o sudoeste abrigava, além dos extrativistas, os que cultivavam milho e mandioca. Por fim, no sul ficavam aqueles que dependiam da caça e da pesca para sobreviver. 

Num âmbito residencial, eles são uma população ribeirinha e vivem em moradias denominadas Hanoko, que são palafitas –  casas construídas com troncos de árvores e cobertas com folhas de palmeiras, suspensas na água sobre pilares de madeira e interligadas por pontes ou passarelas.  

Quando um indígena warao se casa, a preferência é de que o homem se mude para o território da esposa e se estabeleça na casa da mulher, costume próprio da sociedade matriarcal. 

Por mais os espanhóis tenham chegado à América por volta de 1492 e mantido o processo de colonização até o século XVIII, essa etnia não sofreu de imediato a ação estrangeira no território. Por estarem numa localização privilegiada no que se refere à segurança: os pântanos e manguezais, os colonizadores não demonstraram interesse em invadir esses territórios.

A população indígena de outras regiões do país, no entanto, não teve a mesma sorte. Muitos grupos buscaram abrigo em áreas de predomínio Warao e alteraram, portanto, a disposição geográfica, seus costumes, idioma e cultura. Mas isso não foi um grande problema. A etnia os acolheu e, assim, deu início à diversificação e heterogeneização de seu povo. Embora fosse constituído de apenas uma unidade étnica, seus integrantes formaram grupos diferentes, dotados de características plurais, dialetos e organização política distinta, evidenciando a diversidade como um fator presente em sua cultura.