Marcos Pinatti é alfaiate há 65 anos. Começou ajudando o pai na alfaiataria que ficava na Rua São Sebastião, 745. Ele tinha muitos clientes e sempre contava com três ou quatro profissionais para ajudá-lo com as encomendas. Hoje, ele trabalha sozinho. No geral, o ofício da alfaiataria é realizado pelos mesmos profissionais há anos. O mesmo alfaiate vestiu gerações. Essa mesma trajetória é percorrida por outros profissionais como sapateiros, relojoeiros e a maioria dos trabalhadores manuais.
Com o desenvolvimento da tecnologia muitos profissionais ficam ansiosos a respeito do futuro. Afinal, tudo que é novo assusta. É o mesmo sentimento que a população experimentou quando surgiram as máquinas na revolução industrial do século XVIII e, agora, com o surgimento da Inteligência Artificial. Essa tecnologia é capaz de assustar até mesmo os mais jovens, já que a velocidade das transformações tecnológicas pode tornar uma profissão obsoleta em pouco tempo.
Mesmo assim, o sapateiro Arides Ferreira não considera a tecnologia uma vilã. “Eu não entendo como prejudicial. Eu acho que a gente tem que se adaptar dentro do sistema da evolução, porque não podemos ficar, simplesmente, na mesma coisa. A população cresce, a vida muda. Hoje é muito mais rápido tudo e qualquer tipo de situação, então não tem como esperar”, diz.
Ary, como é conhecido, atua na área há 55 anos. Diferente da maioria dos sapateiros que trabalham atualmente com consertos, ele produz botas sob medida. “Se você parar, você regride”, destaca. As botas produzidas a mão são vendidas em todo o Brasil pelo seu site. Com apoio da tecnologia, ele não precisa mais ir de haras em haras para tirar as medidas e fazer as botas de hipismo. Ele envia uma ficha modelo para seus clientes e eles mesmo mandam as medidas por WhatsApp.
A artesã Benvinda de Oliveira Ferreira também vê a internet como um ponto positivo nas vendas. Ela trabalha com artesanato há 30 anos, vende produtos variados, como tapetes de crochê, chaveiros de amigurumi, panos de prato pintados à mão e peças em tricô em geral. A maioria das vendas ocorre pelo Facebook e pelo WhatsApp.
Mais raros e difíceis de serem encontrados são os relojoeiros. Esse é o trabalho desempenhado por Carlos Zimmermann, que desempenha o ofício de consertar ou manusear relógios. Ele aprendeu o trabalho com o pai aos 8 anos de idade e nunca parou. “Hoje estou com 68 anos, então faz 60 anos que trabalho com isso”. Formado em Química Industrial pela Unaerp, Zimmermann comenta que teve três empregos como químico, mas depois voltou para a relojoaria.
Ele argumenta que, antigamente, tinha muito mais clientes e hoje em dia as pessoas preferem ver as horas no celular do que em relógio, mas garante que consegue se virar bem exercendo a profissão nos dias de hoje.
“Eu gosto do que eu faço, conserto todos os tipos de relógios, tanto os de paredes, quanto os de pulsos e até os cucos”.
Para o futuro
Assim como Zimmermann, o alfaiate Marcos Pinatti gosta do que faz e não consegue ficar parado. Tem muitos clientes que ainda levam peças que precisam de consertos e ajustes. “Vem uma calça, eu aperto. Vem um paletó, eu aperto. Vem uma calça para fazer barra. Entra bastante serviço.” Pinati acredita que muitos clientes ainda o procuram porque não encontram outras pessoas para realizar esse serviço.
O alfaiate acredita que a profissão está no fim porque os jovens não se interessam pelo ofício, mas acredita que quem aprendê-lo pode ganhar dinheiro exercendo a profissão, já que ainda há muitas pessoas que preferem ternos feitos por alfaiates.
Para o gestor de RH, Amauhry Zucolaro, a tecnologia é a principal causadora de mudanças no mercado de trabalho. Ainda segundo ele, algumas profissões não têm futuro, pois a tecnologia vem substituindo funções e a sociedade busca a modernidade. “Eu não preciso ir ao sapateiro porque eu compro um sapato em um site chinês que custa bem mais barato e quando ele não estiver mais bom, eu vou lá e compro outro”, completa o gestor de RH.
Em contrapartida, Zimmermann pensa diferente. Ele enxerga o futuro da sua profissão como algo que não vai acabar totalmente, pois algumas pessoas se interessam pelo ofício. E ainda deixa um recado para quem deseja ingressar na carreira. “É um aprendizado eterno, então você nunca pode parar de aprender. O jovem tem que se adequar de acordo com o surgimento de modelos de relógios novos. Quem quiser entrar nessa profissão, tem que ter muita paciência porque não é fácil.”