Você está viciado?

Internautas que sofrem sem acesso à rede podem ter uma dependência chamada nomofobia
por Letícia Botelho

O avanço da tecnologia mobile, que permite o uso praticamente integral de meios diversos de troca de dados e informações, atrai e exerce domínio sobre os usuários.  Cada vez mais os celulares e outros equipamentos eletrônicos toma conta dos internautas e essa dependência já tem até nome: nomofobia. A fobia ou o pânico de estar sem o aparelho móvel é considerada uma doença e o nome científico foi criado no Reino Unido. O distúrbio afeta usuários de todas as idades, deixando a pessoa angustiada, com consequências psíquicas, sociais e físicas​.

Essa dependência tem gerado estatísticas trágicas. Uma pesquisa da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego revelou que por conta do uso do celular no trânsito 150 pessoas morreram por dia em 2017, o que resulta na assustadora soma de 54.750 vítimas no ano.

Dependente do smartphone: transtorno prende o usuário à rede

Outro estudo brasileiro, realizado pela pesquisadora Anna Lúcia King, da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, verificou que 34% dos entrevistados afirmaram ter alto grau de ansiedade sem o telefone por perto. Tudo começa com rápidas olhadinhas no mobile e chega a horas de conexão, perdendo o foco de aulas, trabalhos, conversas com alguém que está próximo, ou até mesmo no trânsito.

Esse distúrbio é considerado tão grave que já classifica três categorias do vício: consciente, abusivo e dependente. No Brasil, a nomofobia ainda é um tema novo, mas Coreia do Sul, Japão e China já a consideram como um problema de saúde pública e oferecem centros de reabilitação para a população dependente.

COTIDIANO COM NOMOFOBIA 
Como muitos de sua geração, o estudante de Direito, André Luís Marim, de 18 anos, gosta de ficar no celular, mas esse apego começou a afetar seus estudos, seu relacionamento com amigos e família, levando-o a evitar o contato pessoal. O jovem diz passa a maior parte de seu tempo navegando na internet.

“Sinto que faz mal, mas não consigo evitar”, fala André Marim

“Assim que acordo, a primeira coisa que faço é olhar o celular. Para falar a verdade fico o dia inteiro vendo minhas redes sociais, principalmente Twitter e Instagram”. André conta que quando os professores acabam de passar matéria ele já corre para mexer no celular e no ônibus não fala com as pessoas que estão ao lado para conversar no whatsapp.  “Quando chego em casa, pego meu aparelho e fico assistindo séries, conversando com as pessoas que estão online, jogando jogos e acabo indo dormir umas 3 horas da manhã ou mais. Sinto que isso me faz mal, porém não consigo evitar’’, relata.

AS CAUSAS E COMO TRATAR
O psicólogo Águiner William Rodrigues recebe casos da doença no seu consultório em Pitangueiras. O profissional explica que esse tipo de vício está se tornando cada vez mais frequente e preocupante, pois provoca problemas físicos e psicológicos.

“No campo psiquiátrico já podemos ver que o uso abusivo do celular provoca chance de se desenvolver transtornos psiquiátricos como ansiedade, depressão e sintomas de impulsividade. Problemas físicos também frequentemente ocorrem, incluindo fadiga, dores musculares, distúrbios do sono e sedentarismo”, conta. Segundo ele, há maior propensão em se envolver em um acidente automobilístico e sofrer quedas.

Dois dos sintomas causados pelo vício são a fissura – que leva o usuário a manusear o telefone celular para se sentir melhor quando está deprimido ou melancólico; e a abstinência, uma ansiedade desmedida nos momentos em que não pode fazer uso do aparelho ou quando pensa que pode perder chamadas e recados.

Os nomofóbicos acham difícil desligar o aparelho em situações obrigatórias, como no avião ao decolar; passam a se atrasar em compromissos por ficar muito tempo no celular; gastam valores elevados na compra de aparelhos de último tipo e nas contas das operadoras.

A produtividade no estudo ou no trabalho cai e põe a pessoa em risco de reprovar ou perder o emprego. Esses cidadãos também normalmente recebem mais multas de trânsito, se descontrolam quando amigos ou familiares reclamam do excesso de uso do celular, podendo atrapalhar os relacionamentos. “O usuário dependente permanece conectado por períodos muito maiores do que gostaria e aumenta progressivamente o tempo que fica usando o aparelho, não tendo capacidade de reduzir o uso”, explica Rodrigues.

“O uso abusivo do celular provoca ansiedade e depressão”, explica o psicólogo Rodrigues

O psicólogo dá dicas que podem evitar esse distúrbio psíquico.  “Evite ao máximo levar seu celular para o banho, cama, ou na hora do almoço. Ao invés de checar o celular assim que acordar, planeje seu dia na primeira hora e desligue-se do aparelho em ocasiões como no trabalho (caso não seja necessário), no carro e em reuniões de família.”  O importante é manter o controle sobre o celular enquanto ainda é possível e a dependência não tenha atingido níveis patológicos.

Gostou? Compartilhe com os amigos