Os transtornos alimentares são condições psicológicas e físicas que afetam a relação da pessoa com a comida e o próprio corpo, especialmente durante a adolescência. Mudanças físicas, sociais e emocionais, pressão estética da mídia, bullying e disfunção familiar contribuem para esses transtornos que causam consequências na saúde física e mental.
Isadora Gomes da Costa, 18 anos, desde os 10 anos tem experiência pessoal com bulimia e compulsão alimentar. Ela desenvolveu os problemas com alimentação devido a comentários de familiares sobre seu peso. A jovem menciona a falta de suporte familiar e de profissionais da saúde e destaca a importância de um ambiente acolhedor, mas felizmente encontrou apoio em um grupo de amigas da escola.
Isadora tem o sonho de ser atriz e já participou de peças de teatro na escola e em outros locais. Embora goste muito, destaca a pressão estética vivida nos teatros escolares, onde desejava papéis de protagonistas e sentia a necessidade de emagrecer imediatamente para se encaixar nos padrões. “Nos dias de prova de figurino era uma tortura, eu tinha muito medo de engordar e frustrar alguém com isso. Tinha vontade de fugir todas as vezes”, ela comenta. Isadora ressalta a importância de os adultos estarem atentos e preparados para abordar o assunto em um ambiente escolar, onde os colegas também podem estar buscando mudanças em seus corpos.
Orientação nutricional
Camila Secaf, nutricionista, compartilha sua perspectiva sobre o tema. Segundo a profissional, os principais desafios são estabelecer um vínculo de confiança com o paciente, fornecer educação e desconstruir mitos sobre os transtornos alimentares. “É necessário envolver toda rede de apoio do paciente, o estabelecimento de um ambiente seguro, a educação e o fornecimento de materiais educativos”, comenta. A falta de acesso a serviços especializados também foi apontada como um desafio enfrentado durante o tratamento.
Camila também menciona um livro intitulado “Como lidar com transtornos alimentares: guia prático para familiares e pacientes”, do Ambulim – Centro Especializado de Transtorno Alimentar de São Paulo. Essa obra pode ser uma fonte de informações educacionais para famílias e pacientes em busca de orientação e suporte. No tratamento, Camila ressalta a importância de diversas abordagens, como a renutrição do paciente, controle dos sintomas e a prevenção de recaídas. Ela também menciona a diferença que o envolvimento escolar exerce na vida dos adolescentes. “É necessário promover a diversidade corporal em todas as atividades escolares e evitar a associação entre o corpo magro e sucesso, poder ou saúde, enquanto o corpo gordo é estigmatizado e considerado inferior”.
Decisões nas escolas
A coordenadora de organização escolar da PEI Oscar de Moura Lacerda, Fábia Candido compartilhou as medidas adotadas pela escola para promover um ambiente seguro e acolhedor. Ela destaca o acompanhamento dos alunos durante as refeições, a identificação de situações preocupantes e o fornecimento de apoio. Além disso, a PEI conta com auxílio de órgãos como o Conviva, que fornece suporte em saúde mental, e conta com a ajuda de uma nutricionista que trabalha junto à cozinha.
A equipe da Secretaria da Educação também está disponível para auxiliar em casos de transtornos alimentares, mas o objetivo é detectar e encaminhar essas situações para os familiares, prezando pela parceria e envolvimento da família no processo de cuidado e orientação.
A coordenadora destaca também a importância das aulas de Biologia e das eletivas na abordagem da questão da saúde e estética. “A escola busca ajudar os alunos a entender que a importância não está em ter um corpo perfeito, mas sim em cuidar de si e se sentir bem consigo mesmo”. Nas eletivas de culinária, os alunos têm a oportunidade de arrecadar alimentos e preparar suas próprias refeições, com o auxílio dos professores.
Por fim, ela comenta sobre a importância das atividades de teatro e dança para os alunos, e enfatiza que não há exclusão na participação. “As atividades ajudam no desenvolvimento dos alunos e contribuem para a expressão pessoal, uma melhoria na autoestima também.”
Isadora Sabino, estudante e recreadora, destaca a importância das atividades físicas e do lazer. Essas atividades fortalecem a autoestima, melhoram o bem-estar emocional e promovem a aceitação individual. Isadora também aborda a utilização da atividade física como parte do tratamento para transtornos alimentares, ressaltando sua relevância para saúde e bem-estar geral. “A prática de exercícios físicos pode mostrar para os adolescentes um mundo além da sua zona de conforto. É importante mostrar que eles são amados pelo que são e que existem pessoas felizes e diversas”, comenta.