Adolescentes sofrem com transtorno alimentar nas escolas

Mudanças sociais, pressão da mídia, bullying e disfunção familiar influenciam a saúde física e mental
por Lauriany Braquino de Souza

Os transtornos alimentares são condições psicológicas e físicas que afetam a relação da pessoa com a comida e o próprio corpo, especialmente durante a adolescência. Mudanças físicas, sociais e emocionais, pressão estética da mídia, bullying e disfunção familiar contribuem para esses transtornos que causam consequências na saúde física e mental.

Isadora Gomes da Costa, 18 anos, desde os 10 anos tem experiência pessoal com bulimia e compulsão alimentar. Ela desenvolveu os problemas com alimentação devido a comentários de familiares sobre seu peso. A jovem menciona a falta de suporte familiar e de profissionais da saúde e destaca a importância de um ambiente acolhedor, mas felizmente encontrou apoio em um grupo de amigas da escola.

Isadora diz que “dias de prova de figurino eram uma tortura”. (Lauriany Braquino).

 

Isadora tem o sonho de ser atriz e já participou de peças de teatro na escola e em outros locais. Embora goste muito, destaca a pressão estética vivida nos teatros escolares, onde desejava papéis de protagonistas e sentia a necessidade de emagrecer imediatamente para se encaixar nos padrões. “Nos dias de prova de figurino era uma tortura, eu tinha muito medo de engordar e frustrar alguém com isso. Tinha vontade de fugir todas as vezes”, ela comenta. Isadora ressalta a importância de os adultos estarem atentos e preparados para abordar o assunto em um ambiente escolar, onde os colegas também podem estar buscando mudanças em seus corpos.

Isadora como a personagem Sra. Potts para o musical “A Bela e a Fera”. (Arquivo pessoal).

 

Orientação nutricional

Camila Secaf, nutricionista, compartilha sua perspectiva sobre o tema. Segundo a profissional, os principais desafios são estabelecer um vínculo de confiança com o paciente, fornecer educação e desconstruir mitos sobre os transtornos alimentares. “É necessário envolver toda rede de apoio do paciente, o estabelecimento de um ambiente seguro, a educação e o fornecimento de materiais educativos”, comenta. A falta de acesso a serviços especializados também foi apontada como um desafio enfrentado durante o tratamento.

Camila também menciona um livro intitulado “Como lidar com transtornos alimentares: guia prático para familiares e pacientes”, do Ambulim – Centro Especializado de Transtorno Alimentar de São Paulo. Essa obra pode ser uma fonte de informações educacionais para famílias e pacientes em busca de orientação e suporte. No tratamento, Camila ressalta a importância de diversas abordagens, como a renutrição do paciente, controle dos sintomas e a prevenção de recaídas. Ela também menciona a diferença que o envolvimento escolar exerce na vida dos adolescentes. “É necessário promover a diversidade corporal em todas as atividades escolares e evitar a associação entre o corpo magro e sucesso, poder ou saúde, enquanto o corpo gordo é estigmatizado e considerado inferior”.

 

Decisões nas escolas

A coordenadora de organização escolar da PEI Oscar de Moura Lacerda, Fábia Candido compartilhou as medidas adotadas pela escola para promover um ambiente seguro e acolhedor. Ela destaca o acompanhamento dos alunos durante as refeições, a identificação de situações preocupantes e o fornecimento de apoio. Além disso, a PEI conta com auxílio de órgãos como o Conviva, que fornece suporte em saúde mental, e conta com a ajuda de uma nutricionista que trabalha junto à cozinha.

A equipe da Secretaria da Educação também está disponível para auxiliar em casos de transtornos alimentares, mas o objetivo é detectar e encaminhar essas situações para os familiares, prezando pela parceria e envolvimento da família no processo de cuidado e orientação.

A coordenadora destaca também a importância das aulas de Biologia e das eletivas na abordagem da questão da saúde e estética. “A escola busca ajudar os alunos a entender que a importância não está em ter um corpo perfeito, mas sim em cuidar de si e se sentir bem consigo mesmo”. Nas eletivas de culinária, os alunos têm a oportunidade de arrecadar alimentos e preparar suas próprias refeições, com o auxílio dos professores.

Por fim, ela comenta sobre a importância das atividades de teatro e dança para os alunos, e enfatiza que não há exclusão na participação. “As atividades ajudam no desenvolvimento dos alunos e contribuem para a expressão pessoal, uma melhoria na autoestima também.”

Isadora Sabino, recreadora, promove atividades com seus alunos adolescentes. (Arquivo pessoal).

 

Isadora Sabino, estudante e recreadora, destaca a importância das atividades físicas e do lazer. Essas atividades fortalecem a autoestima, melhoram o bem-estar emocional e promovem a aceitação individual. Isadora também aborda a utilização da atividade física como parte do tratamento para transtornos alimentares, ressaltando sua relevância para saúde e bem-estar geral. “A prática de exercícios físicos pode mostrar para os adolescentes um mundo além da sua zona de conforto. É importante mostrar que eles são amados pelo que são e que existem pessoas felizes e diversas”, comenta.

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