Eduardo perdeu etapas muito importantes da vida dele por ter que agir como um “homem”. Quando criança, toda vez que chorava, escutava do seu pai e familiares que aquilo não era coisa de homem. Só mulheres, consideradas mais frágeis, podiam chorar. Quando cresceu, isso acabou se replicando em seus relacionamentos, pois Eduardo tinha muita dificuldade em demonstrar seus sentimentos e acabou perdendo algumas pessoas importantes da sua vida por esse fator.
O jovem também nunca se sentiu confortável para frequentar casas noturnas e prostíbulos. Sempre que recusava o convite, seus primos duvidavam da sua virilidade e o caçoavam. Ele acabava cedendo e indo para lugares onde não queria estar. Quando finalmente conseguiu uma companheira e ela engravidou, viveu seus momentos mais felizes, apesar de ter participado muito pouco da gestação de sua parceira porque tinha que trabalhar ainda mais para dar uma vida confortável a seu filho. Afinal, ele, o homem, é quem devia colocar dinheiro dentro de casa.
Esta é uma história fictícia, mas que se replica na vida das pessoas, afinal o machismo não afeta apenas as mulheres. Essa forma de discrimimação continua presente na sociedade e afeta todas as relações interpessoais, já que faz parte do dia a dia, de maneira estrutural e em formato escancarado ou silencioso.
A ativista Silvana Santos diz que a ausência de empatia dos homens pelas mulheres, que eles aprendem, de forma até mesmo camuflada, desde muito cedo, é um fator a mais de desencorajamento para que elas denunciem. Mas, esta matéria não é sobre casos de denúncias, abusos e violências, e sim para mostrar como o machismo está no nosso dia a dia.
PARCEIRO MACHISTA – De acordo com a psicóloga Luciana Fontes, a pessoa que passa por um relacionamento tóxico, muitas vezes marcada por preconceito e atitudes machistas, após o término tem grandes chances de precisar de um auxílio terapêutico, já que ficará com marcas psicológicas e possíveis traumas. Com baixa autoestima e pouca autoconfiança, caso a pessoa não tenha buscado ajuda, há grandes chances de levar essas questões para suas próximas relações.
O homem também é afetado pelo machismo. Moldado desde a infância a agir de forma a sentir superior e com mais direitos do que as mulheres, ao crescer se depara com situações desfavoráveis e pode perder momentos importantes ou adotar atitudes que prejudicam toda sua vida futura.
A psicóloga Luciana relata que o machismo os leva, muitas vezes, a considerar o feminismo como um privilégio das mulheres. Ela explica também que situações de machismo podem estar presentes também em relações homossexuais, já que ninguém nasce imune a esses pensamentos, por ele ser estrutural, podendo ser aplicado em situações de dominação, superioridade, causando a toxicidade na relação.
Em um bate papo com dois jovens que preferem não se identificar, a mulher, de 20 anos, relatou que seu pai sempre teve uma postura machista, mas nunca reconheceu isso. “Ele sempre barrou que eu usasse roupas decotadas, mesmo já sendo maior de idade”.
Essa situação ainda é recorrente, o que acabou afetando a autoestima da moça, já que ela não se sente digna de mostrar seu corpo. Já o rapaz, de 21 anos, relata que por mais que ele já tenha se apaixonado algumas vezes, sente muita dificuldade em demonstrar seus sentimentos, pois desde criança seu pai o repreendia. Consequentemente, sempre que se relaciona com alguém prefere mulheres que tenham tendência à submissão. Atualmente, ele está fazendo terapia para tentar parar de replicar o machismo que veio do pai.
ALERTA VERMELHO – A psicóloga Luciana aponta alguns meios de reconhecer os alertas vermelhos que um homem machista pode dar, antes mesmo de aprofundar o relacionamento. Entre as dicas, estão prestar atenção em como ele trata as mulheres do seu convívio (mãe, avó, irmã, colegas de trabalho); como ele trata as estranhas também; observar se há punições como o jogo de silêncio, deixando a parceira/o se sentindo culpado, manipulação; se ele demonstra se sentir superior à parceira; se há mudança de humor repentina; e como ele aborda assuntos sobre seus ex-relacionamentos, como se fossem sempre elas erradas.