As mulheres curves são aquelas que possuem curvas mais acentuadas e um corpo mais voluptuoso. Muitas vezes, essas mulheres também são chamadas de plus size, ou seja, acima do peso, ou do “tamanho” considerado “ideal” pela sociedade. Durante muito tempo, a mídia e a indústria da moda promoveram um padrão de beleza que valorizava os corpos excessivamente magros, somente atingível pelas poucas mulheres que exercem a função de modelo. No entanto, nos últimos anos tem sido vista uma mudança nesse cenário e as mulheres curves passaram a ganhar cada vez mais espaço e representatividade.
Uma das principais vozes do movimento de empoderamento feminino é a modelo, influenciadora e atriz Julia Souza, que compartilha em seu Instagram o seu processo de aceitação do seu corpo, com postagens mostrando sua beleza real. Julia conta que ficou conhecida quando postou uma foto de uma viagem para Búzios e suas dobrinhas estavam aparentes. Na época, a foto teve uma repercussão acima do engajamento do número de seguidores que tinha. Foi então que a influenciadora começou a trazer mais esse tipo de conteúdo.
Ela conta que encontrou dificuldades nessa trajetória, pois as empresas que a procuravam para representar o corpo real não tinham medidas suficientes. Julia ressalta que não é a favor de nenhum extremo, pois sabe que a obesidade é uma doença. “Mas, a anorexia também é. Temos que nos aceitar do jeito que somos, tendo um carinho com nós mesmos, comer bem, cuidar do seu corpo, exercitar-se e não se comparar com outras pessoas, até porque cada um tem um biotipo diferente”, completa.
Em relação às críticas, a influenciadora diz que um número é só um número se os médicos disserem que sua saúde está bem. Sobre as campanhas publicitárias, o ponto principal destacado por ela é que seria incrível não existir um tipo de corpo único nas campanhas, havendo diversidade, com pessoas totalmente diferentes divulgando e usando um determinado produto que caiba em todos.
Lojas e marcas também têm se inserido nesse movimento pelo empoderamento feminino e usado a moda para promover a autoestima e a aceitação. Uma das proprietárias da loja Kapa de Korpo Boutique, Elisa Flores, diz que o papel da indústria deveria ser pelo menos conseguir vestir as mulheres gordas da mesma forma que veste as mulheres magras. “A moda deve ser inclusiva para todos os tipos de corpos, porque quando a mulher veste uma roupa em que ela se sente bem. Isso gera autoconfiança e acaba não tendo tanta comparação”, afirma.
A lojista também comenta que para mudar as percepções negativas sobre as mulheres acima do peso, o primeiro passo é “parar de ver mulheres gordas como doentes”, pois, hoje em dia, há cada vez mais mulheres acima do peso, se cuidando e com hábitos saudáveis. “É necessário mostrar que a mulher vai muito além de um corpo, muito além de um peso. E com certeza a moda plus size empodera as mulheres, por fazer com que elas consigam vestir uma roupa do jeito que imaginavam”, diz Elisa.
A representação da imagem corporal na mídia afeta muito a autoimagem, especialmente das mulheres, pois apresenta um cenário idealizado no qual só a mulher magra sabe fazer e só a mulher magra se destaca. Na vida real essa discriminação se manifesta em números e pesquisas apontam que 65% dos executivos, presidentes e diretores de empresas apresentam alguma restrição na hora de contratar pessoas gordas.
Por conta do preconceito, apesar dos avanços, mulheres curves ainda continuam se isolando. A psicóloga Giovanna dos Santos, especializada em pessoas com obesidade e transtornos alimentares, explica que a autoaceitação impacta positivamente em todos os âmbitos da vida de uma mulher, pois afeta diretamente a autoestima e uma mulher com a autoestima elevada é capaz de tudo. “Temos que parar e refletir ‘O que é bonito para mim?’. A psicologia ajuda o paciente a separar o ideal dele e o ideal que a sociedade acredita ser o certo”, analisa.
Com a divulgação de anúncios de lingerie com mulheres antes chamadas de “gordinhas”, comerciais de televisão com modelos acima do peso e orgulhosas de suas curvas, lojas e marcas que trazem tamanhos plus de roupas bonitas, contemporâneas e sensuais, o universo feminino real está, cada vez mais, se aproximando do mundo digital, antes idealizado e irreal.