Psicologia na base: um cuidado essencial para futuros jogadores

Falta de apoio psicológico e artefatos pessoais podem afetar o desempenho do atleta no campo
por Pedro Henrique Scapin

No competitivo mundo do futebol de base, onde jovens buscam realizar seus sonhos, o apoio psicológico surge como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento dos atletas juvenis no Brasil. Reconhecendo os desafios emocionais e as pressões enfrentadas nesses últimos anos por esses atletas, clubes e instituições esportivas disponibilizam suporte de atendimento à saúde mental. O acompanhamento psicológico não fortalece apenas o bem-estar emocional dos jogadores, mas também aprimora seu desempenho, expande sua confiança em campo e ajuda os atletas a lidarem com os sentimentos e emoções.

Qualquer ser humano pode se abalar com algo, e isso não é diferente com os jogadores de categoria de base. A diferenciação entre a vida pessoal e profissional é fundamental para cruzar a linha do sucesso e, para isso, é necessária a formação do ser humano junto à de atleta. A equipe de base é um bem precioso para os clubes, e fatores como pressão de torcida, pressão familiar e acontecimentos interpessoais podem mexer com o emocional dos garotos. Esse cuidado pode fazer a diferença entre revelar um jogador que pode chegar à Seleção Brasileira e aos principais clubes do futebol mundial ou minar o potencial de um adolescente.

Diogo Ramos, 18 anos, nascido em Ribeirão Preto, é lateral-direito do sub-20 do Velo Clube, time da cidade de Rio Claro, atualmente no Campeonato Paulista Sub-20 1ª Divisão. No começo de 2023, o atleta sofreu uma lesão no pé que o deixou afastado por 60 dias. Superar esse momento não foi fácil. “Durante os momentos das minhas lesões, foi difícil, mas o que mais me complicava era não poder estar jogando e treinando. A lesão do pé foi muito forte”, explica. O lateral diz que o período pós lesão foi “uma guerra e era muito difícil treinar com essa lesão no pé. Depois tive que correr para igualar as musculaturas de ambas as pernas e acabei machucando a coxa. Foi uma luta, mas o que passou pela cabeça foi a vontade de voltar que era maior que a tristeza de ficar parado. Foi daí que eu tirei forças para treinar e voltar mais forte”.

Diogo Ramos volta a treinar depois de período complicado pós-lesão.(Arquivo pessoal).

 

DIFICULDADES NO ESPORTE

Em situações como essa, o apoio psicológico é fundamental, mas nem todos os clubes conseguem manter um profissional especializado nesse suporte, devido aos custos. O próprio Ramos conta que nos clubes onde passou não havia especialistas e, em alguns times, o treinador fazia esse papel. “Era mais do jogador manter a cabeça em bom estado para render mais no campo”.

Clubes que não fazem parte da elite do futebol e que enfrentam dificuldades para arrecadar patrocínios, renda e outros recursos financeiros reduzem custos na folha de pagamento, mantendo somente o essencial para o time continuar competindo. Nessa condição, psicólogos não fazem parte do grupo e os técnicos, muitas vezes, suprem a função. Esse é o caso do Velo Clube Sub-20, onde quem presta os primeiros suportes aos atletas é Valdemir Marques de Brito, mais conhecido como “Neno”, o atual treinador da equipe.

“Hoje não temos um psicólogo disponível, mas caso precise, o clube arruma um profissional aos atletas. Há ensinamentos de como lidar com atletas em campo e no extracampo no curso da CBF. Existe toda uma preocupação com os atletas mais novos. A base é muito importante para os clubes e temos que cuidar da formação do atleta. Aprendemos que temos que formar um atleta e um ser humano melhor”, diz o técnico.

Neno, técnico do Velo Clube Sub-20, lidera a equipe taticamente e psicologicamente. (Arquivo pessoal).

A realidade atual dos clubes brasileiros evidencia a falta de recursos para manter profissionais em todas as áreas carentes de especialistas. Com uma média salarial de aproximadamente R$ 3.300, de acordo com o site “Educa Mais Brasil”, os clubes menores raramente conseguem contratar um psicólogo permanente.

Para Clodoaldo Dechechi, professor de Educação Física da Unaerp, apesar da colaboração da equipe de suporte ser importante para o preparo dos jogadores de base, a predisposição do atleta é necessária. “Em uma equipe multidisciplinar, o treinador, o médico, o preparador físico, o fisioterapeuta e o psicólogo são importantes. Quando era preparador físico, eu falava que podia fazer o melhor treino físico e tático, mas se o jogador não estiver disposto a render, ele não vai render. Essa disposição para o rendimento, passa por ele se controlar diante dos problemas, pelos momentos de maior e menor performance, pelas vitórias e derrotas. O psicólogo é de suma importância em uma equipe, de modo a fazer com que o próprio atleta entenda a necessidade de se controlar”.

Clodoaldo Dechechi exalta a importância da disposição do atleta em relação ao rendimento individual dentro de uma equipe. (Arquivo pessoal).

 

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