Depois de desobedecer às medidas de isolamento social, a estudante de medicina, Júlia (nome fictício), explica como era o pensamento durante este período. “Pra mim ainda não era uma realidade, eu não conhecia pessoas perto de mim que tiveram no estado grave da doença. Eu conhecia pessoas que se recuperaram bem, então confesso que naquela época eu não estava com medo, me sentia livre pra transitar. Eu não estava raciocinando os riscos que isso poderia causar”.
A universitária disse que quando ficava muito tempo em casa no início da pandemia, sentia muita falta da rotina de encontros sociais. “Estava com muita saudade da minha família e amigos. Sentia como se não fosse sair dessa situação. Agora a socialização não faz mais tanta falta, mas acho isso preocupante. Acho que quando isso tudo passar, talvez a gente tenha perdido um pouco a questão social de estar com o outro, e precisar do outro”.
A pandemia causada pela Covid-19 aumentou os transtornos de ansiedade e depressão na vida dos jovens. Os que já sentiam esses sintomas leves desde antes da pandemia, perceberam um aumento durante este período. Esses problemas de saúde mental têm a ver tanto com o medo do coronavírus, como também o medo do distanciamento social. Já que os jovens estão em uma etapa da vida onde têm a necessidade do contato físico e social, e essas questões podem prejudicar o seu desenvolvimento mental e físico.
Para a psicóloga, Luciane Del Lama, “a forma como estamos enfrentando a pandemia revela o estado de mundo interno que enfrentávamos antes. Já vivíamos uma crise social, porém quando pensamos na quarentena, é uma convalescência coletiva, em que nos contraria, mas que também é uma reflexão de onde vínhamos e para onde vamos”.
O estresse psicológico é um dos mais relevantes fatores de risco. Mas as dificuldades de concentração, tédio, irritabilidade, medo, inquietação, sensação de solidão, alterações no padrão de sono e alimentação, apreensão com o futuro, e outros fatores podem ser desafiantes durante o isolamento social.
A vestibulanda Luísa (nome fictício) relata que no começo da pandemia ficava em casa, e isso estava afetando o psicológico. “Nesse meio tempo eu contrai uma ansiedade que eu nunca tive. Precisei ir no médico fazer um acompanhamento pois estava ficando com falta de ar, até achei que fosse covid, mas não era. Comecei a tomar remédio todos os dias pra ver se eu controlava”.
A situação de como se comportar na quarentena pode alterar de uma pessoa para a outra, de acordo com as condições de isolamento. É importante criar uma nova rotina de afazeres tanto nos momentos de solitude, quanto em família. “Teve uma época que eu chorava muito por ficar sozinha em casa. Agora eu considero tranquilo estar em casa, já não tenho mais a necessidade de sair. Perdi o costume e a disposição para outras coisas, foi um processo, a gente vai se reinventando”, completa Júlia.
Os comportamentos dos jovens não podem ser generalizados, pois alguns conseguem se acostumar com a falta da vida social e outros não aguentam a solidão. A especialista recomenda a importância de reduzir o individualismo, e lidar com o perigo da transmissão da doença, mas também reconhecendo o perigo que está dentro de si mesmos, como a ansiedade, e a vulnerabilidade.
A vestibulanda Luísa relata que tinha medo de transmitir o vírus para a família. “Eu estava em um beco sem saída porque ficava muito mal com a ansiedade. Me sentia perdida e sufocada, parecia que era a única saída era ter contato com as pessoas de fora, mas eu também tinha medo de transmitir o vírus para as pessoas de dentro da minha casa. Era como um ciclo sem fim”.
Para um controle dos impactos negativos que o isolamento pode causar, é importante acolher os jovens e permitir que se expressem a respeito do assunto da pandemia. “É essencial que experiências de resiliência, solidariedade e compaixão também sejam compartilhadas. Percebo a importância de o jovem ter um apoio profissional para o cuidado de si mesmo, e assim apresentar um melhor enfrentamento da situação atual”, conclui a psicóloga.