Quem nunca sonhou em trabalhar jogando videogame? Em um passado não tão distante, talvez essa ideia fosse impossível. Hoje, uma grande parte de jovens conseguem se dedicar integralmente a jogar os mais variados jogos de forma competitiva.
Esse é o caso de Pedro Marcari, o Lep, nascido em Ribeirão Preto, o jovem se aventurou e teve sucesso na carreira de jogador profissional nos esportes eletrônicos. Durante essa trajetória, ele ainda se tornou um meme mundial durante um campeonato de League of Legends.
“Eu sempre gostei e fui bastante influenciado pelos meus primos mais velhos, que me faziam jogar vários jogos com eles”. O trajeto de Lep para o jogo que mudaria sua vida foi de forma relutante, “tinha um grupo de amigos meus do Ragnarok que começaram a jogar o LoL e eu não gostava muito, pois lembrava o Dota. Eu resolvi dar uma chance pro jogo e me apaixonei. Era uma época que eu não me importava muito com a escola e eu comecei a ver que tinham jogadores que já estavam tendo uma carreira com os eSports lá fora”, conta Lep.
Desde o início, a Riot Games investiu de forma pesada para que o cenário fosse sendo expandido, e o sucesso foi quase que imediato. Em uma ascensão meteórica, o League of Legends já ocupava o topo dos rankings de jogos mais jogados do mundo pouco tempo depois de seu lançamento oficial. O estopim de tudo foi uma competição organizada de forma presencial, e que aconteceria em São Paulo, na Campus Party.
“Meus pais não me deixaram ir, eles acharam que era algum tipo de golpe porque eu falei para eles que valia dinheiro. Nisso eles duvidaram que eu poderia ganhar dinheiro com um jogo e meu pai me proibiu de ir”, revela Lep que nessa época ainda tinha 16 anos e nunca tinha viajado para longe da sua cidade natal. “Apareceu a matéria da Campus Party na TV e eles viram que não era uma pegadinha. Até ficaram bastante chateados por não terem me deixado ir”
No mesmo ano, a Riot Games organizou um mega evento na BGS (Brasil Game Show) para o lançamento oficial do servidor brasileiro. Nele, haveria um campeonato oficial da desenvolvedora. “Como eu já jogava com alguns amigos, a gente decidiu que participaria do torneio” conta o ex-atleta que ainda diz sobre a dificuldade dos pais liberarem “só deixaram eu ir porque o nosso manager passou os documentos dele e falou que ia se responsabilizar por mim”.
“A gente ficou em terceiro e lugar ganhou 7 mil reais cada um. Com isso, meus pais viram que eu estava ganhando dinheiro mesmo não sendo da maneira que eles queriam”, comenta o ex-atleta. Com o sucesso do League of Legends no Brasil, a KaBuM! (loja de produtos eletrônicos), entrou na parada e queria investir em um time. E a equipe escolhida foi a de Lep. “Aqui foi a virada de chave de vez na minha carreira. Comecei a receber mensalmente e a estrutura que eles ofereceram foi absurda. A gente morava em uma mansão”, revela.
Lep ainda conta que foi ali onde precisou tomar uma decisão com os pais. Ou seguia o sonho, ou precisaria estudar. “Minha mãe não ficou muito feliz com isso, mas meu pai me apoiou bastante. Ele me disse que eu era novo, não tinha nem 18 anos e eu poderia contornar ainda caso não desse certo e que não poderia deixar essa oportunidade escapar.”
“No começo, na KaBuM! a gente ganha 700 reais de salário, e acabava que assim, por ser tudo bancado comida, moradia e as contas, a gente colocava o dinheiro limpo no nosso bolso. Muita gente ganha 3 mil reais e não consegue depois de pagar tudo que precisa, ficar com essa quantia para ele”, diz o ex-atleta. Naquela época, ainda não existia um monopólio tão grande da Riot, e haviam mais campeonatos. Com isso, Lep conta que com “o dinheiro das premiações junto com o salário, era uma quantia considerável.”
“O meu grande sonho era vencer o campeonato brasileiro e se tornar um dos vencedores. Deixar minha marca na história do CBLOL”, explica Lep que ainda diz que o primeiro ano de carreira foi quando deu “a vida para que pudesse fazer tudo aquilo valer”. O ex-atleta conseguiu vencer a competição de cara e foi qualificado para o Mundial.
No Mundial, a KaBuM! teve uma campanha histórica, ao eliminar a campeã europeia, Alliance, na fase de grupos do torneio. Ainda assim, a competição reservou o status de meme internacional para Lep. Por conta de ter morrido muito em poucos jogos, o KDA (contagem de abates, mortes e assistências) ficou muito desequilibrado e quando deram close no rosto de Lep junto aos números,o meme veio pronto. Além desse episódio, dentro de uma partida, o ex-atleta protagonizou o “teLEPorte”, por ter usado uma habilidade de se teleportar e ter ficado no meio de cinco jogadores, morrendo de imediato.
“É óbvio que depois a repercussão que teve da galera pesando em cima de mim, foi uma coisa que me abalou durante um tempo. Ainda mais que eu era muito novo e eu deixava isso afetar bastante o meu psicológico. Acho que passei quase dois anos bem abalado com esse peso em cima de mim”, confessa Lep. A comunidade dos e-sports é cruel, muito por conta de ser tudo ali na internet. A sensação de impunidade e que é uma terra sem lei, gera muito hate desproporcional em cima de dezenas de atletas. “Depois de um tempo, você se acostuma. Hoje eu levo na brincadeira e vida que segue”.
Campeão logo de cara, manter-se no topo é difícil para quem já alcançou a glória. “Eu sempre tentava me cobrar mais, para conquistar aquilo de novo”, revela o ex-atleta. Lep ainda conta que a “experiência” do Mundial é uma coisa muito bacana. “Ir para fora do país, conhecer novas, jogar com novos jogadores. Tudo isso era o que me motivava a continuar jogando. Esse sentimento de querer experiências novas se tornou o meu maior gás. Não só jogar, mas viver o momento fora do jogo”, complementa.
Antes de ir para o seu último time, a Red Canids, Lep conta que já sentia mais a mesma vontade de antes. “Eu não sei exatamente o porquê desse desanimo. Talvez as experiências ruins na CNB, talvez eu já estivesse saturado mesmo”, revela.
“Eu fiquei muito amigo do pessoal lá, e isso me motivou bastante. Sempre fui um cara que a minha motivação sempre teve ligada à união do grupo. Eu sempre a pessoa que não fazia só por si, mas sim aquele que olha pro lado e fala: esse cara é muito maneiro, eu preciso ganhar por ele também”, comenta.
“Precisamos trocar algumas peças e o time não encaixou muito bem. Ficamos bem desmotivados, começaram a ter muitas brigas internas entre os coreanos. A gente foi muito mal e nisso veio o rebaixamento”, conta Lep. “Nesse momento, a gente mudou de novo, apostamos em jogadores mais consolidados como Revolta e Yoda. Mas o clima interno não era bom, muito ego. Esse grupo eu não via uma união, isso me desmotivou muito. Eu já tava desanimado com LoL fazia um tempo e essa foi a gota d’água que faltava. Foi um período muito ruim, fiquei muito pra baixo e cheguei até a desenvolver alguns problemas de ansiedade”, revela.
“Eu tive uma proposta muito boa para continuar jogando, mas já estava completamente saturado do jogo. Nisso, eu comecei a fazer as lives e aquilo tava dando muito certo, me dando um retorno muito bom”, conta Lep. Feitas em uma plataforma estrangeira, o retorno monetário das streams são infinitamente superiores aos de um jogador profissional, e com menos desgaste físico e também emocional.