O bairro Jamil Cury, localizado na Região Oeste de Ribeirão Preto é privilegiado com o Pico do Mirante, um dos locais mais altos da cidade, com uma visão panorâmica de tirar o fôlego, quase 360 graus de altitude que atrai milhares de pessoas na virada do ano para assistirem à queima de fogos e curtirem o céu iluminado pelos quatro cantos da cidade.
O local também é visitado diariamente, principalmente aos finais de semana por pessoas de várias denominações religiosas visto como “monte” como nos tempos bíblicos onde as pessoas procuravam este local para fazerem suas orações e pela rapaziada que soltava pipas.
Mas, segundo os moradores entrevistados nesta matéria, o local foi totalmente abandonado pelo Poder Público e pouco valorizado pela população, que joga seus lixos e entulhos no entorno do local.
Vendo de perto essa realidade, o aposentado, Nestor Wigand Iserhad, no ano de 2009, na época com 68 anos, buscava por uma oportunidade de trabalho e não encontrava, começou a desenvolver atividades no local, como plantações, capina e com o tempo de sobra ainda catava recicláveis pelas ruas do bairro onde ficou muito conhecido e se tornou exemplo pela população local.
Seu Nestor fazia as mudas de plantas com sementes em sua casa, esperava crescer e levar ao espaço cultivado, e aos poucos as mudas se transformaram em árvores e algumas frutíferas que já davam frutos que nem mesmo ele saboreava. Arrancados ainda verde pela população.
Mesmo assim, nada disso fez o seu Nestor parar. Suas plantações só cresciam num espaço que dá de cara para rua onde ele mora. Mas de repente o aposentado adoeceu, teve uma embolia pulmonar e ficou muito debilitado, tendo que encerrar suas atividades.
O exemplo do seu Nestor movimentou muita gente a favor do Pico do Mirante. Na mesma época a Associação de Moradores do Complexo Mirante protocolou um projeto de revitalização para o espaço com a ideia de transformar o Pico em um parque multifuncional para atividades esportivas, culturais, ecológicas e sociais, mudando a realidade de abandono e conscientizando a população com as questões dos descartes de lixos e entulhos. Mas, infelizmente o Projeto não chegou a ser concretizado pelo Poder Público.
O tempo passou, o local continuou em total abandono e nada foi feito, até que tempos depois, outros moradores, seguindo o exemplo do seu Nestor, retomaram as atividades no Espaço, cada um cuidando de um pedaço. A ideia deu tanto certo, que a iniciativa se transformou em Projeto denominado como Moradores Amigos do Bairro do Jamil Cury, que desenvolvem atividades de cultivo, plantações e praça.
Hoje o Projeto conta com mais de trinta pessoas, e mesmo em época de pandemia do covid-19, os moradores se revezam em cuidar de um pequeno espaço no Pico do Mirante, ao lado do Posto de Saúde, localizado na Rua Pedro Freitas Alves. Já é possível saborear frutos, curtir uma sombra no local e se encantar com plantas ornamentais que dão vida ao espaço com suas flores.
Para o seu Nestor, “é uma alegria muito grande ver essas pessoas cuidando do espaço onde um dia ele começou, mesmo doente à vontade dele era ajudar ”, disse ele. O aposentado adoeceu há três anos, sofre com uma bulimia pulmonar, sente muitas dores, e mesmo assim insiste com uma pequena plantação no fundo da sua casa.
Do outro lado do quarteirão, na rua João Jaime Moreira, no mesmo bairro, Jamil Cury, os moradores sofriam com o mato alto e descarte de lixo numa área verde ao lado do Posto do DAERP – Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto. O casal de moradores, Elizeu e Márcia, deram início às atividades, cuidando do mato em frente a sua casa. Como isso, a enfermeira aposentada Lúcia Aparecida Inácio, também passou a cuidar da frente da sua casa, e a partir daí movimentou os outros vizinhos, fizeram demandas ao Poder Público em prol do local e aos poucos transformaram o espaço em uma linda praça.
Desafios não faltaram para a dona Lúcia e seus vizinhos, passaram por muitas lutas, inclusive com pessoas que utilizavam o espaço de forma inadequada, sem contar com a demora do Poder Público em atender as necessidades do local.
Lúcia relatou que através de muito esforço conseguiu do Poder Legislativo de Ribeirão Preto, uma demanda para transformar o espaço em uma praça que receberá a homenagem, o nome da sua mãe, Maria Madalena da Silva Souza, mulher batalhadora que veio de Alagoas e lutou muito para educar seus 5 filhos, lavou roupas, fazia bolos e balas de coco para ajudar nas despesas de casa. Educou seus filhos e hoje Lúcia tem sua mãe como inspiração de vida. Motivo pelo qual recebe a homenagem.
“Tudo que eu faço hoje eu penso nela, ela é uma inspiração para mim, gostaria muito que ela tivesse viva para receber essa homenagem”. Lúcia relata com lágrimas nos olhos.