Os bebês arco-íris são denominados dessa forma quando o nascimento do filho é posterior a um aborto. Não se sabe ao certo quando e onde surgiu a expressão, mas o significado é a metáfora de que após a tempestade, vem um arco-íris, denominando a nova gravidez como uma alegria para família. Bruna Santos é maquiadora e cabeleireira e conta como foi sua trajetória, após perder quatro filhos. Na primeira gestação, a filha nasceu com a síndrome de hipoplasia do coração esquerdo, precisou passar por diversas cirurgias e quando faltava alguns dias para completar três anos, precisou ser internada. Veio a óbito no dia do seu aniversário, após contrair uma infecção. “No mesmo dia que ela nasceu, eu estava enterrando ela”, relembra.
Em 2017, engravidou de um menino, porém perdeu no quinto mês de gestação. Após algum tempo tentou novamente, mas teve dois abortos espontâneos, um com dois meses e outro com duas semanas. Bruna conta que a vontade de ter um filho sempre foi grande, por isso nunca desistiu, mas ainda carregava traumas das outras gestações. “Tinha medo de passar por tudo de novo”, afirma. Sua rotina era extremamente corrida, saia de casa pela manhã, retornava à noite e não tinha horário certo para almoçar. Seu médico a alertou, dizendo que ela precisaria diminuir o ritmo caso quisesse ter uma gravidez bem-sucedida. Assim, Bruna pediu demissão do cargo de supervisora. “Fiz um compromisso com Deus que se eu conseguisse engravidar e ocorresse tudo bem, eu largaria o emprego que fosse”, diz.
Nessa parte, a história de Bruna e Helen Lima se encontram, pois ela também precisou dar uma pausa no trabalho após engravidar do bebê arco-íris. Em 2009, ela passou por uma perda devastadora, a gravidez foi tranquila até completar o sétimo mês de gestação, quando o bebê entrou em sofrimento e a bolsa rompeu. Ele morreu no dia seguinte. “Ficou um só dia comigo”, relembra. Helen conta conforme as pessoas chegavam ao enterro de seu filho o sentimento de incapacidade tomou conta. “Já nem me reconhecia mais”, diz. Em 2011, Helen engravidou novamente, dessa vez de uma menina. Mesmo a gestação não trazendo indícios de problemas futuros, sentia muito medo. No sétimo mês, ela pediu afastamento do trabalho, pois a sensação de que algo ruim aconteceria não saía de sua cabeça. “A gente acha que os anos vão passar e vai melhorar, mas não melhora”, afirma. Tudo ocorreu bem e hoje sua bebê arco-íris está com oito anos de idade.
Em setembro de 2021, Bruna descobriu que estava grávida novamente. Quando foi ao médico realizar o primeiro ultrassom, tinha uma única preocupação. “Eu só quero ouvir o coração batendo”, afirma. Após confirmarem que estava tudo bem com os batimentos do bebê, a mãe suspirou aliviada. Logo em seguida uma grande surpresa, havia dois corações e Bruna descobriu que estava grávida de gêmeos. A maquiadora está tomando todos os cuidados e sua gestação atual é saudável. “Eu literalmente parei minha vida para não correr riscos”, afirma.
Helen conta que essa experiência foi extremamente dolorida. “Estar no hospital, ter um filho, mas voltar só com a mala nos braços e sem ele”, diz. Ela aconselha que outras mães que passaram por essa situação conversem e compartilhem suas histórias, pois foi o que a ajudou em seu momento de luto. “É a pessoa ouvir quem já passou por essa dor”, afirma.
OUTRA VISÃO
A professora de educação infantil Rita Rigo diz que quando engravidou da primeira vez já tinha em mente que algo poderia acontecer, por ser comum perder nos primeiros meses de gestação ou até por problemas futuros. “Sempre pensei nisso para que o tombo não fosse muito grande”, relembra. Tudo ocorreu conforme o planejado e hoje sua filha tem sete anos. Já na segunda gestação, teve um aborto espontâneo. Um ano após engravidou novamente, porém descobriu que o feto tinha mola hidatiforme, um tumor desenvolvido no útero que não permite o desenvolvimento saudável do embrião, além de trazer riscos para mãe. Para a professora passar por essa perda foi muito difícil, porém vendo o cenário de saúde que o bebê estava, com diversas malformações e outros riscos, ela sabia que não tinha chance da gestação evoluir. “Eu não conseguiria ter um bebê, saber que cuidava de crianças normais e a minha não era”, afirma.
Após essa experiência assustadora, Rita conta que desenvolveu um certo medo de acontecer algo com a sua filha de sete anos, sentia que nada estava sob seu controle e a sensação de perda perdurou por muito tempo. Alguns anos depois, ela engravidou novamente, dessa vez de gêmeos, mas a insegurança e incerteza a preocuparam novamente. Portanto, não conseguiu aproveitar a sua gestação com medo de algo ruim acontecer. Apesar de terem nascido prematuras, ambas estão saudáveis e fortes. “Eu tinha que ter as minhas filhas, não foi daquela vez, mas veio em dobro”, afirma. A professora tem outra visão sobre bebês arco-íris. Após a primeira perda, ela leu sobre o assunto e fez algumas reflexões. Para Rita, essa crença acaba depositando uma expectativa muito grande em cima de uma criança. “Você tem que lutar sim pelo seu arco-íris, mas para se reerguer pela sua vontade de continuar a vida, mesmo sem filhos”, diz