PANDEMIA IMPACTA PRODUÇÃO DE LIXO HOSPITALAR EM RIBEIRÃO PRETO

Em 2020, 18 mil toneladas de resíduos de serviços de saúde (RSS) foram produzidas no município
por Gabriela Viana e Larissa Vieira
Caçamba de resíduos infectantes de um dos setores do Hospital de Clínicas de Ribeirão Preto: material tem descarte e coleta separados do lixo convencional

Passado mais de um ano desde o início da pandemia de Covid-19 no mundo, alguns de seus reflexos já podem ser contabilizados em diferentes setores dentro da sociedade, principalmente naqueles que possuem relação com a área da saúde. Em decorrência da enfermidade, a demanda hospitalar aumentou e em Ribeirão Preto (SP), cidade que já registrou 88.555 casos positivos da doença e 2.451 mortes, o volume de lixo hospitalar recolhido de unidades públicas de saúde em 2020 foi de 18,5 mil toneladas.

De acordo com dados da Estre Ambiental, empresa terceirizada responsável pela coleta de lixo doméstico e hospitalar no município, a quantidade de resíduos de serviços de saúde (RSS) recolhidos no primeiro ano de pandemia em unidades do sistema público de saúde equivale a quase quatro mil caçambas de entulho cheias. Apenas nos polos do Hospital das Clínicas, referência na rede pública de serviços e pesquisas da América Latina, a diferença de 2020 para 2019 foi de 29 toneladas a mais.

Ainda com base no levantamento realizado pela empresa, o volume de lixo produzido fora do ambiente hospitalar cresceu exponencialmente durante o primeiro ano de pandemia. A diferença entre 2019 e 2020 foi de 14.508,807 quilos, o que representa o descarte de aproximadamente 14,5 mil toneladas de lixo doméstico em aterros sanitários. Em 2021, a produção de lixo continua aumentando e apenas nos três primeiros meses já registrou valor superior aos obtidos no mesmo período dos dois últimos anos.

Para o professor universitário de engenharia química, José Guilherme Pascoal de Souza, o aumento na produção de lixo em ambos os cenários é resultado da implementação de medidas sanitárias mais exigentes em decorrência do contágio da Covid-19. Ele ainda aponta que, segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduos de serviços de saúde no Brasil em 2019 foi de 252.948 toneladas, o que significa um montante de 1,21 kg por habitante. Já em 2020, esses números aumentaram e em julho chegaram a aproximadamente 7,5 kg por paciente internado, o equivalente a 20% a mais.

Diante dessa realidade, os cuidados no manejo e descarte do lixo também cresceram, modificando a forma como as etapas de coleta acontecem. Segundo José Pascoal, para evitar a disseminação do vírus é preciso que a população e os profissionais da área tenham em mente a máxima de não misturar materiais possivelmente contaminados com o lixo comum. Esses cuidados facilitam o processo de tratamento dos resíduos e diminuem as chances de transmissão da Covid-19.

“Os cuidados vão desde a geração à segregação, acondicionamento, identificação, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e destinação final. Os RSS gerados pela assistência aos pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19, devem receber manejo especial visando a não disseminação do vírus, independente se o paciente estiver em atendimento hospitalar ou no isolamento em casa. Jamais misturar os resíduos de pacientes em tratamento com os resíduos comuns”, afirma o professor.

DESCARTE
O momento do descarte é primordial para destinar o futuro dos resíduos coletados, assim é evidente que os RSS passam por um processo ainda mais cauteloso que os resíduos normais, onde 40% têm como fim mais eficiente a incineração. “As principais técnicas de tratamento e destinação final de RSS são a incineração, autoclave, micro-ondas e aterros sanitários, valas sépticas e lixões. A incineração é a técnica mais utilizada para o descarte correto, seguido do descarte em aterros, lixões e valas, autoclave e micro-ondas, onde estas duas últimas apenas descontaminam o resíduo e seu descarte é feito em aterros” aponta Pascoal.

Ele ainda ressalta a importância de se realizar o descarte correto dos RSS, já que hoje, com a pandemia da Covid19, o perigo de contaminação é muito grande. “Os principais perigos da não realização dos descartes corretos é a contaminação microbiológica provocada pelos organismos presentes nos resíduos. A não desinfecção dos RSS caracterizados como infectantes e a má gestão destes podem oferecer riscos à saúde pública e ao meio ambiente. A contaminação de água, ar e solo pode ser considerada como potencial risco ambiental.”

O cuidado na hora de coletar os resíduos também são orientados aos catadores que prestam serviços a empresas como a Estre Ambiental, onde os funcionários são equipados com roupas específicas, por exemplo, macacão, botas, luvas e máscaras. Além dos equipamentos utilizados pelos coletores, o veículo usado para a realização do transporte dos resíduos também precisa estar devidamente identificado e capacitado para a atividade, de acordo com regras estabelecidas pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

 

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